Entrevista com o presidente do Sinpospetro Niterói, Alex Silva (na imagem, com o microfone na mão), cujo sindicato acaba de completar sete anos de criação –
Em 10 de dezembro de 2013 nasceu o Sinpospetro Niterói e Região, que logo após receber o registro sindical, em 2015, mostrou sua força conquistando um reajuste salarial de quase 10% na primeira convenção coletiva que negociou.
Desde então, muitas outras conquistas vieram. Por trás da maioria delas está o trabalho do jovem presidente Alex Silva e de sua equipe, que hoje representa, com uma adesão de mais de 70%, os frentistas dos municípios de Niterói, São Gonçalo, Maricá, Saquarema, Araruama, Iguaba Grande, Cachoeiras de Macacu, Guapimirim, Itaboraí, Magé, Petrópolis, Tanguá e Teresópolis.
Saiba um pouco mais sobre essa trajetória de sucesso na entrevista a seguir.
Como surgiu a ideia de criar o Sinpospetro Niterói? Quais foram os passos dados e os desafios que vocês tiveram que enfrentar até o registro formal?
A ideia de criar o Sinpospetro Niterói nasceu com a criação do Sinpospetro-RJ, que é a entidade mãe, da qual o presidente Eusébio foi o fundador e na qual tive a oportunidade de participar como secretário-geral. Com a consolidação do Sinpospetro-RJ, percebemos a necessidade da categoria ter uma representação mais próxima dela. Daí surgiu a ideia de criar um sindicato específico da categoria na região de Niterói, pelo poder econômico que tem, pelo tamanho da cidade, somado a todos os 13 municípios que o Sindicato hoje representa.
Nem posso dizer que tivemos dificuldades, porque sempre contamos com o apoio do Sinpospetro-RJ. Todas as dificuldades, no início da nossa organização, foram superadas com a ajuda do Sinpospetro-RJ, que abriu nossos caminhos.
Um dos maiores obstáculos para os sindicatos é a tomada de consciência dos trabalhadores. Vocês conseguiram avançar nesse aspecto? Quais foram as estratégias mais bem sucedidas nesse sentido?
Nós primamos sempre pela transparência, pela inserção da juventude e das mulheres, e por um trabalho permanente nos postos de combustíveis, fazendo com que o trabalhador compreenda que o Sindicato é ele, ele é o Sindicato. Se o Sindicato é forte, é porque ele é forte. Se o Sindicato é fraco, é porque ele é fraco. Compartilhamos mesmo as responsabilidades, além de investir na formação política e na consciência de classe.
Vocês lidam com uma base sindical bastante heterogênea, que inclui Niterói, cidade de grande porte, que já foi capital do estado, e cidades menores que fazem parte da Região dos Lagos e da Região Serrana. São municípios com realidades muito distintas. As diferenças regionais dificultam a atuação do Sindicato?
Nunca tivemos problemas com isso, porque nossa organização é de uma escola que ensina que o trabalhador sempre tem que ter o Sindicato presente na base. Temos toda uma logística que faz com que nós estejamos sempre presentes, mesmo com essa quantidade e diversidade de municípios. Nós temos, inclusive, uma subsede na Região Serrana, em Petrópolis.
O sindicalismo brasileiro vive um momento difícil desde a reforma trabalhista de 2017, que retirou dos sindicatos sua principal forma de custeio. Como o Sinpospetro Niterói está fazendo para se manter de pé?
Estamos nos mantendo por meio da conscientização do trabalhador. O Sindicato não obriga o trabalhador a contribuir, contribui quem quer e tem convicção, quem se sente representado, dentro dessa ideia de demonstrar que o Sindicato é ele. Com isso, conseguimos evoluir e temos uma adesão de mais de 70% da categoria associada ao Sinpospetro Niterói. Isso nos traz um certo conforto, uma previsão de recursos e custeio para o financiamento.
O Ministério Público também tem sido um grande aliado do Sinpospetro Niterói, em razão das muitas empresas que querem descumprir aquilo que está na convenção coletiva. Quando existe alguma situação como essa, nós logo chamamos a empresa para uma mediação no Ministério Público do Trabalho, que faz valer a decisão assemblear.
Primamos também pelas assembleias, muitas vezes itinerantes, sempre bastante representativas, em que conseguimos consultar boa parte dos trabalhadores. Esse ano tivemos que fazer de forma virtual, mas sempre investimos nas convocações, levamos as assembleias aos postos, e com isso temos pouca resistência às contribuições para o Sindicato.
Quais são as perspectivas para 2021?
Precisamos nos organizar do ponto de vista da política macro. Os sindicatos e os movimentos sociais precisam se reorganizar, definir um projeto político para 2022, começando desde já. Precisamos demonstrar nossa força. Estamos em todas as esquinas, temos estrutura, sites, jornalistas, veículos, combustível e pessoas disponíveis. Precisamos dialogar com os trabalhadores, dialogar com a sociedade, a exemplo das eleições nos Estados Unidos, em que os sindicatos foram decisivos para a vitória do presidente que vai iniciar o mandato no ano que vem. Nosso desafio hoje é nos reorganizar, discutir um projeto político amplo para o Brasil e participarmos como protagonistas das eleições de 2022.
Quem é o presidente Alex? Como se tornou frentista? Imaginava que um dia se tornaria um líder sindical?
Alex é filho de um frentista que é frentista também desde os 18 anos. Meu primeiro emprego foi em posto de gasolina, uma oportunidade que me permitiu trabalhar e estudar. Durante todo esse período só trabalhei em um único posto. Lá eu via as dificuldades pelas quais a categoria passa e por isso resolvi participar da luta sindical. Primeiro participei de uma eleição no sindicato que então representava a categoria, um sindicato eclético, que reunia os trabalhadores de minérios. Não ganhamos a eleição, mas surgiu a ideia de criar um sindicato próprio. Na verdade, era uma ideia que já vinha do movimento nacional e que nós, por termos conquistado alguma liderança sobre os trabalhadores frentistas durante essa eleição, fomos convidados a compor, no grupo de 16 trabalhadores que foi reunido para criar um sindicato nosso no Rio.
Fomos trabalhar para construir essa instituição forte que hoje é o Sinpospetro-RJ. Em paralelo, fui estudar, investir na minha formação pessoal. Estudei e me formei em Direito, tenho hoje duas especializações, uma em Direito Previdenciário e outra em Processo Civil. Construí uma carreira sindical e outra paralela no Direito.
Hoje sou um dirigente sindical de 37 anos, entusiasta da luta. Isso me fortalece, é muito importante para minha vida pessoal, para minha família, porque é a oportunidade que temos de fazer pelo outro, de fazer a diferença.
Qual é o recado para os frentistas de cidades que ainda não contam com um sindicato próprio, mas que sonham em ser melhor representados?
Se organizem! É importante se organizar, ressuscitar a civilidade e a cidadania, o que passa pelos grêmios das escolas, pelas assembleias de condomínios, pelas associações de moradores e vai culminar na participação das categorias de trabalhadores no movimento sindical.