Durante décadas, os trabalhadores buscaram alguma forma de abono natalino ou gratificação de Natal. Os primeiros acordos por categoria começaram a surgir na virada dos anos 40 para os 50 do século passado.
Mas foi só em junho de 1962 que o então presidente trabalhista João Goulart regulamentou o décimo terceiro, que passou a ser obrigatório a todo trabalhador regularmente contratado. A pressão sindical era forte e Jango atendeu aos reclamos.
Parte da elite econômica reagiu muito mal à instituição do benefício, sob a alegação alarmista de que um décimo terceiro pagamento quebraria empresas e geraria desemprego.
Mas foi justamente o contrário que aconteceu. O pagamento de um salário extra no final do ano aqueceu as vendas no comércio, manteve comerciários empregados, abrindo novos postos de trabalho. Já o comércio fez novas encomendas à indústria, girando a roda da economia.
Por ironia da história, hoje, tanto empregados quanto empregadores esperam ansiosamente a chegada desse salário extra, que fará bem ao bolso dos trabalhadores e aos negócios dos empregadores.
O insuspeito Dieese publicou Nota Técnica informando que o mercado brasileiro receberá um aporte superior a R$ 250 bilhões (sim, bilhões) por meio do 13º. salário. O benefício contempla cerca de 86 milhões de compatriotas, com um valor médio ligeiramente superior a R$ 2.700,00.
Só no Estado de São Paulo o décimo terceiro injetará mais de R$ 72 bilhões na economia. Evidentemente que as famílias utilizarão esse dinheiro pra fazer compras ou mesmo quitar dívidas. De todo modo, esse dinheiro vai girar. Como se sabe, água parada e dinheiro parado não fazem bem a ninguém.
E o governo também ganha. Isso porque sobre a massa do décimo terceiro incidem 8% de FGTS e a taxa previdenciária, Quanto às faixas salariais mais altas, haverá desconto do Imposto de Renda na folha de pagamentos. Esse dinheiro vai pro governo.
Dizem que quando a criança é bonita todo mundo quer ser o pai. Mas o 13º. tem pai conhecido, reconhecido e juramentado. Esse pai é o movimento sindical. Foi das lutas operárias, conduzidas por Sindicatos e Federações, que nasceu e cresceu com vigor esse “plus a mais” anual do trabalhador brasileiro.
O Brasil é um país que concentra renda demais. Já o sindicalismo é a única organização cuja atuação ajuda a distribuir renda entre as camadas assalariadas.
Eu digo aos frentistas e demais trabalhadores: usufruam bem do 13º. E façam justiça ao sindicalismo nacional, que foi persistente até conseguir em 1962 transformar em lei aquilo que era uma necessidade e uma reivindicação.
Viva o décimo terceiro salário. Toda conquista salarial, democrática ou cívica merece respeito ou comemoração.