Editorial do presidente da Federação Nacional dos Frentistas, Eusébio Pinto Neto –
Desde o golpe de estado que em 2016 derrubou com mentiras um governo democraticamente eleito, nós trabalhadores enfrentamos duros ataque aos direitos sociais, trabalhistas e previdenciários.
De mãos dadas com os golpistas, os patrões de pronto atuaram para enfraquecer os sindicatos, que sempre foram a principal trincheira de resistência dos trabalhadores. A reforma trabalhista iniciada por Michel Temer e aprofundada por Bolsonaro-Guedes mudou regras que há mais de 40 anos regulavam as relações entre patrões, trabalhadores e seus sindicatos.
De uma hora para outra, a contribuição sindical que antes era obrigatória tornou-se facultativa, sem sequer garantir aos sindicatos o período de adaptação necessário a uma mudança tão brusca, que atingiu de forma violenta suas finanças.
A reforma trabalhista criou ainda contratos que afastam o trabalhador do sindicato, como o trabalho intermitente, bem como com o incentivo à negociação individual do trabalhador diretamente com o patrão. Já pensou se cada trabalhador tiver que negociar diretamente o seu salário e benefícios com o patrão? Sem os sindicato, ficaremos sempre em posição desigual.
Ainda mais porque agora sequer podemos contar com o Ministério do Trabalho, que foi reduzido ao papel de mero coadjuvante, uma secretaria vinculada ao Ministério da Economia. Fato que retrata de forma perfeita o caráter do atual governo, que busca a todo custo a submissão total dos interesses dos trabalhadores aos patrões.
A situação se agravou com a chegada da pandemia de covid-19, que trouxe mudanças profundas ao mundo do trabalho. Primeiro pela onda de demissões provocada pela drástica redução da circulação de pessoas e, consequentemente, do consumo.
Mudou também o modus operandi do trabalho, quando muitas pessoas foram forçadas a trabalhar de casa. A impressão de que a vida desses trabalhadores melhorou é falsa. Pois sem limitação de jornada no lar, o teletrabalho tem comprometido a necessidade de descanso e a saúde mental dessas pessoas.
Na outra ponta, sem outra opção de renda, milhares de pessoas passaram a utilizar motocicletas e bicicletas para fazer todo tipo de entregas. Esses entregadores encontram-se no limbo jurídico, pois a legislação brasileira não regulamenta a atividade, deixando-os à própria sorte e sujeitos às condições impostas pelas empresas, com pouco ou nenhum poder de negociação.
No meio do caminho ficaram os trabalhadores ditos essenciais, dentre os quais se encontram os frentistas e demais funcionários dos postos de abastecimento e lojas de conveniência. Muitos dos quais, em várias partes, enfrentam dificuldades para manter o poder de compra dos salários e os poucos direitos que restam, graças apenas à luta abnegada dos sindicatos e de outros movimentos sociais.
Em todo o mundo, apesar das crises que provocam, as grandes empresas ficam cada vez mais ricas às custas do desemprego, das perdas salariais, da exploração e da precarização do trabalho. Ou a “nova classe operária” – formada por trabalhadores precarizados, teletrabalhadores, trabalhadores por aplicativos e outros – se une para resistir, ou a situação vai piorar ainda mais para todos nós.