Nossa comissão de frentistas foi muito bem recebida pelo presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), na última visita que fizemos à Casa. Ele se comprometeu de forma incisiva a não permitir a aprovação da emenda à MP 1.063, apresentada pelo deputado Kim Kataguiri (DEM-SP), que libera a automação das bombas nos postos de combustíveis. Em resumo, ele nos disse que a emenda é um “jabuti”, porque foge ao objetivo da Medida Provisória.
Sensível ao momento atual que o país vive, ele também colocou de certa forma que não faz sentido ameaçar os empregos de 500 mil trabalhadores.
Essa postura do presidente da Câmara é fruto do trabalho de equipe, feito com muita unidade na categoria, desde o momento que apareceu esse emenda. Fizemos um trabalho muito forte junto à base da categoria e também buscamos articulações com políticos, com outras entidades sindicais e com os formadores de opinião. Felizmente, a atuação dos sindicatos e federações dos frentistas é amplamente reconhecida e respeitada, temos uma credibilidade construída ao longo de 30 anos que, nesse momento, veio nos favorecer.
Conseguimos falar com muitos parlamentares e praticamente todos eles se manifestaram favoravelmente à nossa luta, em todos os partidos, sem nenhum viés ideológico. O mesmo acontece em relação às entidades sindicais e algumas centrais têm nos ajudado muito.
Tudo isso nos dá a segurança de que a emenda do self-service não vai prosperar na Câmara, mas não significa que possamos baixar a guarda ou cantar vitória. É apenas o relato de um fato pontual. Estamos numa escada, subindo degrau por degrau, de forma positiva, mas com muita cautela, porque sabemos que a política é dinâmica e o outro lado, evidentemente, também se movimenta.
Vamos continuar nossa caminhada, buscando fortalecer a unidade da categoria. Ainda há muito a fazer, primeiramente na organização dos trabalhadores, em termos de informação e conscientização, porque muitos ainda não acreditam que isso possa acontecer. Estão redondamente enganados, porque se não existissem sindicatos com a organização que temos hoje, certamente já não haveria frentistas no Brasil há muitos anos.
O país recebe um forte assédio das grandes multinacionais, que têm por objetivo operar a revenda. Tanto é que o deputado Kim, além da emenda do self-service, apresentou outra emenda para autorizar as distribuidoras a operar a revenda. O que seria muito ruim para o setor, pois possibilitaria a criação de um oligopólio, em que poucas companhias controlariam o mercado de forma cartelizada. Imagine uma dessas distribuidoras sendo proprietária de mais de mil postos de combustível, ou um estado inteiro com todos os postos nas mãos de uma só distribuidora… É um absurdo, que demonstra que o mandato do deputado está a serviço das grandes multinacionais e não à serviço dos interesses do Brasil.
Também não é verdade que não há frentistas em outros lugares, como diz o deputado Kim. Além do Brasil, a categoria continua a existir em várias partes do mundo, em toda a América Latina e, inclusive, em alguns estados dos Estados Unidos, referência do liberalismo de mercado. Não precisamos copiar nenhum modelo de fora, temos que ser criativos dentro da nossa realidade.
O Brasil não é um país de primeiro mundo. Muito pelo contrário, é um país com uma das piores distribuições de renda do mundo, com uma enorme miséria. Temos uma renda salarial abaixo do salário mínimo e a maioria das pessoas não têm nenhum acesso à tecnologia. Pudemos comprovar isso durante a pandemia, quando milhões de crianças em idade escolar não puderam ter aulas on-line porque não possuem computador ou acesso à internet. Imagine um país assim querer copiar as tecnologias do primeiro mundo… É óbvio que não vai funcionar.
A tecnologia precisa chegar no tempo certo, para não acentuar as desigualdades. Hoje, o Brasil não está devidamente estruturado para absorver a tecnologia do self-service de combustíveis de forma positiva. Os avanços da tecnologia devem servir à melhoria da vida das pessoas, não para causar desemprego ou aumentar os riscos para quem abastece nos postos.
Eusébio Pinto Neto,
Presidente da Federação Nacional dos Frentistas (Fenepospetro)