Os protestos de junho de 2013 deixaram uma herança maldita que remeteu o país a retrocessos democráticos claramente visíveis no governo Bolsonaro. O movimento, que começou com as manifestações de rua contra o reajuste da passagem do ônibus, tomou rumos inimagináveis e, por pouco, não nos perdemos.
Não foi só pelo aumento das passagens. A esquerda, que resistiu aos anos de chumbo e realizou manifestações na década de 80 pela redemocratização, não percebeu a gravidade do movimento, que parecia juvenil. Mas a direita envergonhada — que vivia escondida nos porões da ditadura — conseguiu capitanear a importância dos protestos e assumiu a liderança do movimento. Dessa forma, abriu-se o caminho para o impeachment da presidente Dilma Rousseff e para a direita subversiva implementar a sua agenda liberal e reacionária.
A direita utilizou o combate à corrupção como estratégia para mobilizar a classe média e realizar uma campanha bem-sucedida contra o petismo. A classe média sempre teve um dedo podre para a política, despreza os pobres e é responsável pelo retrocesso. Em todas as lutas para reduzir a pobreza, as desigualdades e promover a dignidade humana, a classe média está lá, como uma pedra no meio do caminho.
A tecnologia contribuiu para a disseminação do movimento, enquanto a violência para esvaziá-lo. A partir daí, os protestos deixam as ruas e passam às manifestações digitais. Redes sociais e aplicativos de mensagens deram voz a discursos polarizados e sem rostos. É notório que o brasileiro se envolveu mais com a política, mas isso não significa a qualificação dos debates. As táticas de desinformação e de promoção de discursos de ódio tornaram-se cada vez mais sofisticadas, ganharam amplitude e atingiram de forma significativa as discussões e a democracia.
O mês de junho de 2013 foi um marco na história política brasileira e segue em andamento. O movimento sindical ressurgiu e recuperou a sua memória de luta, ao eleger o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas sofreu um golpe com o número de parlamentares de direita eleitos para o Congresso. A direita mantém-se ativa e disposta a desafiar a vontade do povo e a democracia do país. Precisamos nos manter atentos para não repetir os mesmos erros.
Viva a democracia!
Eusébio Pinto Neto é presidente da Federação Nacional dos Frentistas (Fenepospetro) e do Sinpospetro-RJ – Sindicato dos Frentistas do Município do Rio de Janeiro.