Os alagamentos no Rio Grande do Sul nos levam a pensar sobre o que estamos fazendo com o mundo e os rumos que desejamos para a humanidade. É unânime o entendimento de que se trata de um evento extremo, sem precedentes, agravado pelas mudanças climáticas no planeta. A ambição e a exploração do homem colocam em risco a sua própria sobrevivência.
Um estudo divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU), na semana passada, revelou que o Brasil foi o país que mais sofreu com os desastres climáticos nas Américas, com 745 mil pessoas afetadas ao longo do ano de 2023. A ocorrência cada vez mais frequente e de maior impacto desses eventos está relacionada ao desmatamento predatório e a emissão de gases de efeito estufa na atmosfera.
O desmatamento nos biomas brasileiros atingiu níveis recordes durante o governo Bolsonaro, cujo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, defendeu a mudança das regras ambientais para passar a boiada. A agropecuária foi responsável pela maioria do desmatamento no país, seguida pela exploração do garimpo.
Ao reforçar os órgãos de fiscalização e punir os criminosos que degradam o meio ambiente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu reduzir o índice de desmatamento no país no primeiro ano de seu mandato. Contudo, a natureza tem um algoz implacável, o Congresso Nacional. Segundo o Observatório do Clima, existem 25 Projetos de Lei e três Propostas de Emenda à Constituição que atacam os direitos socioambientais. Os retrocessos incluem a flexibilização do Código Florestal, a redução de reservas legais na Amazônia e até anistia para desmatadores.
As mudanças climáticas provocadas pelo homem aumentam os eventos extremos, o que prejudica a saúde, a segurança alimentar e o desenvolvimento econômico. A tragédia no Rio Grande do Sul deve nos inspirar a mudar as nossas atitudes em relação à prevenção, que evita tanto sofrimento e prejuízos. A tecnologia deve ser uma ferramenta essencial no desenvolvimento de fontes de energia renovável e na criação de modelos de previsão de desastres naturais mais precisos.
É hora de transformar o luto em uma estratégia de luta em prol da vida e da sustentabilidade do planeta. Precisamos retornar às raízes e aprender com os povos originários, que têm um papel fundamental na proteção da biodiversidade e do ecossistema.
O trabalho fraterno e solidário dos voluntários que resgatam vidas no Rio Grande do Sul nos leva a crer que ainda há esperanças para a humanidade. Contudo, devemos ser solidários também com o planeta. Precisamos acreditar que seremos capazes de mudar esse cenário para assegurar a existência das futuras gerações.
Eusébio Pinto Neto,
Presidente do SINPOSPETRO-RJ e da Federação Nacional dos Frentistas